quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A Identidade da Poesia

Pode-se pensar, em primeira instância,
que poesia é apenas palavra criada
do mero prazer em dizer, se souber.

Engana-se. Cabe-lhe amar a mulher,
diz muito bem da saudade velada
ou da poesia própria e de sua fragrância.

Quando bem feita, desfila elegância.
Não necessita ser tão requintada,
basta que sua leitura dê prazer.

Agora, que venha quando vier.
Que não seja por capricho ou fachada.
Tampouco para atender mendicância.

Poesia não é encomenda, é circunstância.
Faz-se da ocasião mais apropriada,
nasce da conjuntura que lhe couber.

Se, conseguinte, ao poeta lhe aprouver,
e a sentir eminente, assinalada,
ela virá digna, sem exuberância;

Com seus versos todos em consonância
e sobre a folha, por fim, repousada
tal qual uma poesia deve ser.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Faço Menção

Aos amantes, aos amigos,
aos avulsos, aos atacados,
aos sintomáticos
e também aos categóricos.
Àqueles que olham de lado,
aos de aperto de mão firme,
aos gatunos, aos chorosos.
A qualquer um que se deprima.
Também aos de riso largo,
aos que apreciam uma rima,
aos bem letrados e aos que
não conseguem ler essa linha.
Beberrões derrotados
no meio-fio do Centro,
por que não a vocês
e aos vizinhos drogados?
Às moças de classe, de pompa;
às madames, abastadas vadias.
Aos velhos tarados,
aos velhos de guerra,
aos velhos de pinga.
Guardas, caixas,
porteiros, cobradores,
amputados, pombos.
Às árvores, aos bueiros
e, claro, aos grafites.
Às senhoras malcheirosas
que para tudo dizem amém.
Aos ilustres desconhecidos
que vão e que vêm.
Aos amores à vista primeira
e segunda também.

A tudo que me passa no paço,
a que olho e penso:
isso cabe na minha poesia.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O Mosquito

Sai pra lá, mosquito!
Meu corpo já tem
todas as picadas
que pode aguentar.
Que vivem coçando
e coçam pra burro.

Nem vem zum-zum-zum,
só a capoeira
é que mata um.
Não vai me matar
nem viver aqui.
Sai pra lá, mosquito!