segunda-feira, 12 de maio de 2014

Um Dia Qualquer

Instituiu-se, nalgum momento da história,
de consenso e martelo batido,
que aniversário é celebração.

Diz-se ser bom dia, dos alegres,
floridos, de comprazer,
mesmo aos miseráveis,
embebidos nos dissabores do viver.
Assim, qual milagre.

Um dígito que tropeçou,
afeito,
às grades do calendário e
pronto,
nasce o dia perfeito.

Que perfeição instaurada é essa,
de paradoxo e arbitrária,
que nos convence ganhar ano de vida
quando, certamente, caminhamos à morte?

Dia em que nos presenteiam por
ter vencido, à casualidade,
trezentos e sessenta e outros.

Dia, porém, de sorrisos largos,
brilhantes e solícitos.
E também de tímidos
contidos
cumprimentos.
Dia de surpresas de boa-fé,
de manter a cabeça em pé
para envergá-la em pagamento
a quem lhe cedeu um segundo,
e dizer-lhe "obrigado".
Dia de arrependimentos

e de retomadas.
Dizem até de fim de ciclo
e vida renovada.
Dia de acalento
de um abraço apaixonado.

Dia, por fim, de um coitado
que, ao fim do dia,
sentou
e chorou
de alegria.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Soneto às Frequências Assíncronas

Se fosse eu bem quisto como bem quero
não seria visto como pedante
nem me tratarias tal louco errante
que mergulha em cada amor com esmero.

Se grande me amasses como a amo grande
verterias prantos em meu enterro
não me exilarias pelo meu erro
tolo de impedir que a chama se abrande.

Se pudesses acompanhar meu ritmo
sentirias o galopar frenético
ressonar com as cordas do teu íntimo.

No descompasso do embate sintético
sobra-me a derrota do amor legítimo
frente ao desterro de um temor ilógico.