sexta-feira, 25 de abril de 2014

Inquirição

Senhora tristeza,
desgraçada
desatada
descuidada
diz que vai
mas faz morada
na vida dos sem-nada;
desiludidos
desprovidos
de equilíbrio
e de outras coisas.

Ébrios de tristeza
sem sentido
sem beleza
nem partido.
Desferidos
golpes tantos
que certeiros
submetem os inteiros
a quebrantos.

Da tristeza que se faz
a aspereza
e a tenaz
incerteza
de uma vida repleta
de ausências
inconstâncias
inexistentes
esperanças
de melhoras.

E nas andanças
nas derivas
nas idas
amarra-se
em laçadas
corredias
e empossa-se
das vidas
destruídas.

Tristeza, senhora,
questiono-te:
és tu
sem hora
de acabares consigo
ou apenas não vês a hora
de acabar comigo?

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Do Amor Viajante

Amor está nos meandros do rio
de desalentos, fluente à jusante,
erguido pelos ventos de esperança
e chovido em prantos, regresso ao rio.

Diz-se do amor pelas vagas nas orlas
e sua oscilação deitada no mar
como oscila no peito de quem ama
o sangue denso, rubro e navegante.

Diz-se também que as ânsias e receios
que perambulam pelos entremeios
que nem ratos nos bueiros imundos
do coração são infecundo amor.

Mesmo as flores das pradarias vastas
e rasteiras são amor na raiz;
por suas cores, chamariz dos amores
avivados, de fantasias fastas.

Tão cinético o amor, puro e retinto,
que se perde e encontra-se nas metáforas
mundo afora, corre faminto e volta
ao cerne amante, onde se deita e dorme.