Ela sente diferente
muito do que a gente
teima em nem sentir.
Diz assim, bem eloquente
e eu, obediente,
de canto a sorrir.
Ela estava então calada,
meio concentrada
nesse verso meu.
Sentia-se pouca e rasa e
louca e receosa,
perdida no breu.
Nada de inferioridade,
apenas na idade
de ser aprendiz.
Ouvindo a felicidade,
sensibilidade
ao que a canção diz.
Se dormia a madrugada
ou a namorada,
ou talvez os dois.
Como estavam misturadas,
ambas acordadas,
ficou pra depois.
Como dois alunos juntos,
estudamos juntos
o que a vida dá.
E maturando ainda juntos
versos em conjuntos
aqui e acolá.
Ela, poema ambulante,
com seu jeito errante
de passar por mim.
Eu, perdido nesse instante,
digo, dissonante:
"sinto-a viva", enfim.
Chegando ao final da festa,
despediu-se desta,
enquanto eu dormia.
E, no fim, ainda me resta
um beijo na testa
da viva poesia.
(aproveite o chorinho clicando aqui)
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Conversa de Alto Nível
Para enriquecer o inventário e manter o requinte,
um poeta não escolhe falar sobre o amor. Falar sobre o amor já se faz por aí,
em tríades truncadas nos trastes dos violões judiados pela simplificação do
sentimento. Como o porta-voz universal do coração, o bom poeta fala com o amor.
Impõe postura, limpa sua garganta e diz: "Ó, amor meu, que tens a me dizer
desta vez?", e o amor responde, dando início à poesia. Conversam em pé de
igualdade, com ofensas rebatidas e lembranças ardentes. Tudo devidamente
anotado pelo poeta, em minúcias, gracejos e metáforas. Detalhes não lhe podem
escapar, pois fala com o amor, afinal, tão ocupado que és.
Conversam por horas, por dias, anos. Mesmo assim,
nunca se acertam. Há sempre uma pendência do poeta para com o amor, por não se
satisfazer com as palavras de que se valeu para cantá-lo. Por dizer, dizer e
mais dizer e, ainda assim, não o compreender. Afinal, como vai compreendê-lo
realmente se o amor de amanhã não será o amor de hoje, que já não é o amor de
ontem, que, por sua vez, é completamente diferente dos amores de outrora?
Infeliz o poeta, que não vive todos esses amores,
apesar de os querer. Que suspira a cada sussurro, que se arrepia a cada lamento
eloquente e se emociona com tanta beleza que esse amor desfila em seu coração.
Isso nada traz ao poeta senão infelicidade, impotência em ver que o amor ali
está, cheio de vida e de morte, dançante como uma bailarina, e que não consegue
decifrá-lo por completo; sofre como um fotógrafo que persiste em tirar um belo
retrato de uma inconstante borboleta, difícil de enquadrar, e obtém nada mais
que silhuetas borradas. O bom poeta, depois de tempo incomensurável no divã com
o amor, é apenas isso: o desolado artista ilusoriamente contente pelas figuras
desfocadas que conseguiu escrever.
Também há, obviamente, a pendência do amor para
com o poeta. Não poderia dizê-la aqui a vocês, entretanto, porque minha
conversa com esse ilustre desgraçado amor ainda está em curso. Por hora,
calo-me e ouço e só.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Que Venham!
Hoje acordei motivado.
Sem motivo especial,
só com uma inspiração
de bons ares que virão.
Mas nada que com destino
tenha qualquer coisa a ver.
E com instinto, tampouco.
É apenas o resultado
do acúmulo de pequenos
e favoráveis eventos
que nos ocorrem na vida.
Até umas e outras notícias,
em ordem sequencial,
reforçaram a ventura
e toda essa questão.
Ela já vem, entretanto,
de longe, de antes, de outros,
de momento desigual
e, por acaso, de ser
única, efêmera e só.
Meu contento está na sorte
de receber com ternura
as bonanças vindouras
e abraçá-las com vigor,
dizendo-lhes, uma a uma
"Sejam bem-vindas, vocês!"
Sem motivo especial,
só com uma inspiração
de bons ares que virão.
Mas nada que com destino
tenha qualquer coisa a ver.
E com instinto, tampouco.
É apenas o resultado
do acúmulo de pequenos
e favoráveis eventos
que nos ocorrem na vida.
Até umas e outras notícias,
em ordem sequencial,
reforçaram a ventura
e toda essa questão.
Ela já vem, entretanto,
de longe, de antes, de outros,
de momento desigual
e, por acaso, de ser
única, efêmera e só.
Meu contento está na sorte
de receber com ternura
as bonanças vindouras
e abraçá-las com vigor,
dizendo-lhes, uma a uma
"Sejam bem-vindas, vocês!"
domingo, 5 de janeiro de 2014
Samba de Virada
Tum tum
faz a batida
que bate o tan tan
e o bule na avenida.
Na medida
o som percorre
os corações de São Jorge
e nunca morre.
Também não
morre o tum tum
do coração paulista.
Vive!
Vive, vendo o samba da pele negra
e da pele branca
que tantam e pandeiram
e encantam
e cortejam a cidade.
Samba
que sacode efusivo
e se entranha
em sorriso e vontade,
quase com a saudade
que só o samba pode dar.
Tum tum, então,
dando o tom
do novo ano
que, por engano,
passou sem querer passar
enquanto passava na avenida
coração meu,
sorriso teu,
em São Jorge de Goiás.
faz a batida
que bate o tan tan
e o bule na avenida.
Na medida
o som percorre
os corações de São Jorge
e nunca morre.
Também não
morre o tum tum
do coração paulista.
Vive!
Vive, vendo o samba da pele negra
e da pele branca
que tantam e pandeiram
e encantam
e cortejam a cidade.
Samba
que sacode efusivo
e se entranha
em sorriso e vontade,
quase com a saudade
que só o samba pode dar.
Tum tum, então,
dando o tom
do novo ano
que, por engano,
passou sem querer passar
enquanto passava na avenida
coração meu,
sorriso teu,
em São Jorge de Goiás.
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