quarta-feira, 24 de julho de 2013

Saúde!

A cerveja que molha a garganta,
    que completa o dia de trabalho forçado,
    que enlouquece o marido e invalida a esposa,
    que mata os filhos,
    que enche o tanque de máquinas rasas,
    e aproxima os amigos.

A despretensiosa alegria
    em planejar a próxima boemia,
    em ceder muito pra ganhar pouco,
    em pertencer à maioria;
    fruto de estreita perspectiva
    da árvore economicamente ativa.

As damas, nossos troféus
    de mamas e coxas, de plástico,
    cervos à savana esperando-se caçar,
    dar sua carne aos leões
    que tanto rugem e mostram as presas
    sem sequer sabê-las cerrar.

Tontos os que não querem
se juntar aos convivas
e entornar esse coquetel
    de mesmices e despropósitos,
    de uniformes e etiquetas,
    de eu-na-terra-deus-no-céu.

Um brinde à vida
- ó vida tão bela e putrefata
    de regalias, raparigas e bons vivants.

6 comentários:

  1. Excelente manifesto! "aos que não querem se juntar aos convivas e entornar esse coquetel", "Um brinde à vida".

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  2. "Uns tomam éter, outros cocaína
    Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria"
    Manuel Bandeira

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    1. Alegria é muito mais saboroso, claro...
      Mas entorpece tal qual a tristeza e a coca.

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  3. É necessário estar sempre bêbedo.
    Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
    Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo,
    que vos abate e vos faz pender para a terra,
    é preciso que vos embriagueis sem cessar.

    Mas - de quê?
    De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
    Contanto que vos embriagueis.

    E, se algumas vezes,
    nos degraus de um palácio,
    na verde relva de um fosso,
    na desolada solidão do vosso quarto,
    despertardes,
    com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
    perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
    a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
    a tudo o que canta, a tudo o que fala,
    perguntai-lhes que horas são;
    e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
    hão de vos responder:

    - É a hora da embriaguez!
    Para não serdes os martirizados escravos do Tempo,
    embriagai-vos sem tréguas!
    De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
    (Charles Baudelaire)

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    1. Não sei da turvação da visão através de uma garrafa vazia. Sei pelas páginas de um livro lido.
      Essa embriaguez eu não largo!

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