A cerveja que molha a garganta,
que completa o dia de trabalho forçado,
que enlouquece o marido e invalida a esposa,
que mata os filhos,
que enche o tanque de máquinas rasas,
e aproxima os amigos.
A despretensiosa alegria
em planejar a próxima boemia,
em ceder muito pra ganhar pouco,
em pertencer à maioria;
fruto de estreita perspectiva
da árvore economicamente ativa.
As damas, nossos troféus
de mamas e coxas, de plástico,
cervos à savana esperando-se caçar,
dar sua carne aos leões
que tanto rugem e mostram as presas
sem sequer sabê-las cerrar.
Tontos os que não querem
se juntar aos convivas
e entornar esse coquetel
de mesmices e despropósitos,
de uniformes e etiquetas,
de eu-na-terra-deus-no-céu.
Um brinde à vida
- ó vida tão bela e putrefata
de regalias, raparigas e bons vivants.
Excelente manifesto! "aos que não querem se juntar aos convivas e entornar esse coquetel", "Um brinde à vida".
ResponderExcluirObrigado!
Excluir"Uns tomam éter, outros cocaína
ResponderExcluirEu já tomei tristeza, hoje tomo alegria"
Manuel Bandeira
Alegria é muito mais saboroso, claro...
ExcluirMas entorpece tal qual a tristeza e a coca.
É necessário estar sempre bêbedo.
ResponderExcluirTudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem cessar.
Mas - de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes,
nos degraus de um palácio,
na verde relva de um fosso,
na desolada solidão do vosso quarto,
despertardes,
com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai-lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo,
embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
(Charles Baudelaire)
Não sei da turvação da visão através de uma garrafa vazia. Sei pelas páginas de um livro lido.
ExcluirEssa embriaguez eu não largo!